Rev. Pe. Regimaldo O.P.
Abril, 2018
Os males do áudio visual no mundo
moderno - Rev. Pe. Regimaldo O.P.
Cada vez mais homens de ciência que não são
católicos se inclinam sobre esta questão, estudam as consequências do
audiovisual sobre a nossa natureza. Como a matéria é muito extensa, não poderei
provar cientificamente tudo o que vou dizer. Os livros e referências estão em
francês. Para quem sabe francês, o padre Riout fez um resumo da questão.
Mesmo que eu não possa provar nesta conferência
tudo o que vou dizer, procurarei dar as bases filosóficas, que mostram que o
audiovisual tal como ele é utilizado hoje destrói a nossa natureza.
Durante a conferência nós veremos os males sob dois
aspectos: do ponto de vista natural e do ponto de vista sobrenatural. Por ter
dado esta conferência mais vezes para jovens, eu desenvolvi mais a parte
natural, pois é importante durante a adolescência mostrar que não é uma
imposição gratuita de Deus que nos impede de utilizar o recurso. Também é bom
conhecer os argumentos naturais quando se vai falar com quem não é católico.
Mas é claro que o aspecto sobrenatural é de longe o mais importante. A rigor,
uma pessoa com grande força de vontade poderia usar estes meios sem
consequências más para ela, mas penso poder afirmar que esta pessoa nunca
chegaria à santidade.
Os princípios de filosofia: lógica e a psicologia.
Na lógica teremos as três operações do espírito.
[D. Tomás: Quando se fala em psicologia, não é o
que se pensa quando se ouve esta palavra. A psicologia é o estudo da alma, da
vontade, da inteligência.]
Primeiro temos a simples apreensão, depois o juízo,
e, por fim, o raciocínio. Por que é importante abordar este assunto? Porque o
audiovisual é sempre utilizado para manobrar as massas, para embrutecer o povo.
E nós vamos entender melhor isto fazendo esta análise das três operações do
espírito. Na primeira operação do espirito é que se vai fornecer o conceito,
que às vezes se traduz também como ideia – mas o termo conceito é melhor.
Como é que um conceito chega à nossa inteligência?
Isto é estudado em psicologia. Tem um princípio filosófico que diz: nada chega
à nossa inteligência que não tenha passado primeiro pelos sentidos. Um bebê,
quando começa sua vida, o que ele faz? Ele mexe em tudo. Ele pega os objetos e
coloca na boca. Ele toca em tudo, ele escuta tudo, ele olha para tudo, e ele
coloca coisas na boca. Ou seja, com os sentidos ele percebe a realidade. Nós
temos cinco sentidos externos: a audição, a visão, o olfato, o paladar e o
tato. Temos também os sentidos internos. Os sinais externos nos darão os
sinais. Os sentidos internos vão receber estas informações e vão elaborar pouco
a pouco um conceito. Então, pelos sentidos nós chegamos a ter os primeiros
conceitos. Quando uma criança nasce, ela não tem nada na cabeça. Deus nos fez
de maneira que através do contato com a realidade os sentidos vão formar
conceitos reais sobre a realidade.
Cinco princípios que estão na base de tudo o que
conhecemos: se uma criança não tivesse nenhum dos sentidos, ela permaneceria
uma idiota, sem capacidade de pensar por toda a sua vida. Eis um exemplo. A mãe
leva o seu filho para uma sala e ele vê uma mesa de madeira retangular. Ele
pergunta à mãe o que é aquilo, e a mãe diz que é uma mesa. Ele vai à cozinha e
vê uma mesa de plástico branca e redonda. Ele pergunta o que é, e a mãe
responde que é uma mesa. Ele vai para fora e vê uma mesa vermelha com três pés;
e pergunta a mãe o que é, e a mãe responde que é uma mesa. Se ele entrar numa
outra sala onde há uma mesa preta e oval, ele mesmo vai dizer que é uma mesa.
Ele compreendeu isto vendo várias mesas diferentes. Apesar de uma ser branca, a
outra ser vermelha, e a outra ser preta, de terem três ou quatro pés, de serem
de madeira ou de plástico ou de ferro, ele entendeu o conceito de mesa. Ele
mesmo julga a quarta mesa e diz “isto é uma mesa”, ele uniu os conceitos e
emitiu um juízo.
A partir do julgamento ele vai colocar juízos um
após o outro, e vai chegar a um raciocínio. Por exemplo: a madeira é dura, esta
mesa é de madeira, então esta mesa é dura. A base do raciocínio deve ser
verdadeira, deve partir de juízos verdadeiros. E para que o conceito seja
verdadeiro, é necessário que seja idêntico à realidade.
E uma das coisas mais graves do mundo informático,
como veremos, é que ele nos separa da realidade. Ele fabrica outra realidade,
põe-nos em outro mundo. Quanto mais a pessoa for jovem, maior a catástrofe. A
pessoa que já tem o seu juízo formado, que já tem experiência, pode olhar o
virtual sabendo que é virtual, que não é a realidade; mas uma criança ainda não
está formada, pode misturar as duas coisas, e temos exemplos disso: um caso
real de uma criança de três anos que diz para a mãe: “veja, vou fazer como o
Batman”, e pula pela janela, e morre. Quanto mais cedo ela começa [a ter
contato com o mundo virtual], mais ela fica separada da realidade, e mais fácil
será tragada pelos inimigos da nossa alma.
A constituição da alma: a primeira faculdade, a
mais importante, é a inteligência, que pode ser comparada a um farol, porque
ilumina. Em seguida, a vontade, que pode ser comparada a um motor. Mas há um
primado, uma precedência da inteligência sobre a vontade; por exemplo, se você
diz a uma pessoa “vá”, ela vai perguntar “para onde?”; enquanto ela não sabe
para onde vai, ela não pode-se mover. Então a inteligência deve iluminar a
vontade para que ela possa ser colocada em movimento. A vida espiritual é
extremamente importante. Alguém que não faz leitura espiritual e não faz oração
não tem nada que oferecer à sua própria vontade. Um sermão de vinte minutos por
semana não é suficiente para um católico viver no mundo atual. Na Idade Média
poderia bastar – os sermões, porém, eram de uma hora –, mas no mundo moderno é
impossível, é necessário ler e fazer oração.
Onze paixões
As paixões são
boas em si mesmas. Nosso Senhor teve-as todas. Ele usou sua paixão de cólera contra os mercadores do templo, usou sua
paixão de ódio contra o pecado. Em si elas são boas, mas depois do pecado
original elas se revoltaram contra a inteligência. Podem ser divididas em duas
categorias: concupscíveis e irascíveis. As concupscíveis nos farão ir para o
bem, e as irascíveis ajuda-nos a superarmos o obstáculo que nos impediria de
irmos ao bem. Vamos agora seguir, mas voltaremos a isto ao falarmos dos filmes
e da música moderna.